Nihon Tenji: Sistema Braille em versão japonês
Neste post acrescento como curiosidade a história de expansão do Sistema Braille no Japão e o desafio de elaborar na versão japonesa que tem mais de 100 letras no alfabeto básico. Também posto em resposta à Jaqueli T. e de colegas professores que apreciam as letras de pontos em relevo.
Existem diversas versões de codificação do Braille, seguindo normalmente para atender as particularidades da Língua de cada país, como é o caso do “Ç” na nossa Língua Portuguesa do Brasil ou letra com crase no Francês (È, Ù) e outros.
A versão Braille em japonês, chamada de “Tenji”, foi idealizada por Kuraji Ishikawa. Ishikawa nasceu em 26 de Janeiro de 1859 na província de Shizuoka, cidade de Hamamatsu, Naka-ku, Shikatani-cho, Japão, e morreu com 86 anos em 23 de Dezembro de 1944 na Província de Gunma. A família dele vêm de descendente de samurai, assim Ishikawa recebeu a educação japonesa, aprendeu inglês, artilharia ocidental e artes marciais. Foi um excelente estudante e tornou-se professor na área de Linguística japonesa em 1875. Em 1886 o Prof. Shimpachi Konichi convidou Ishikawa para elaborar um novo método de ensino para alunos cegos. Para isso, havia necessidade de contato com alunos cegos e Ishikawa foi lecionar em Moain, que era a escola de educação especial para alunos com deficiência visual da Universidade de Tsukuda (Special Needs Education School for the Visually Impaired, University of Tsukuba). Naquela epoca existia outras formas de leitura das letras para pessoas cegas, porém muito complexa para aprender. Desde modo, Ishikawa pesquisou a elaboração da versão do Sistema Braille em japonês, sendo que o maior desafio estava na diferença entre a língua ocidental e japonesa. Em 1888 apresentou a primeira versão e em 1890 estabeleceu o método completo compreendendo o alfabeto japonês no formato kana (katakana). Assim, o dia 11 de Novembro de 1890 foi marcado o dia do “Nihon Tenji” – Braille japonês. No calendário do Japão, o dia 11 de Novembro é homenageado o dia de Tenji.
A palavra Tenji (点字) significa em japonês letra em pontos. O Tenji básico, apresentado na Figura de National Association of Information Service for Visually Impaired Persons (2002 apud Matsuda&Isomura, 2010), mostra o alfabeto codificado no tipo “kana”, que são mais de 100 letras, cujo símbolo em Tenji é identificado abaixo com a letra correspondente em “katakana”. As letras em kana são identificadas por sílaba, por som que emitimos. Assim, para representar o som “ma” existe uma letra, onde na letra ocidental utiliza-se duas letras o “m” e o “a”.
Portanto, para letras de som simples, o Tenji na Figura segue o alfabeto japonês na estrutura da linha (a, i, u, e, o) e coluna (a, ka, sa, ta, na, ha, ma, ya, ra, wa, mm). Ou seja, a lógica segundo Lumiy, encontra-se nos pontos da cela 1, 2 e 4 que variam o som conforme a cela 3, 5 e 6. Explicando melhor, as letras “a, i, u, e, o” usam-se os pontos: a=1, i=1 e 2, u=1 e 4, e=1,2 e 4, o=2 e 4. Para codificar “ma, mi, mu, me, mo”, acrescenta-se os pontos 3, 5 e 6 nas codificações de “a, i, u, e, o”. Para codificar “na, ni, nu, ne, no”, acrescenta-se o ponto 3 nas codificações de “a, i, u, e, o”. Observem que existem diferenças culturais inclusive na sequência de pronunciar as vogais em Português que é diferente da Língua japonesa, assim como, o símbolo Braille em Português/letra ocidental é totalmente diferente do Japonês. Existem ainda, as letras em kana de som composto e ditongos que utilizam duas celas para representar o símbolo em Tenji. Além disso, existem outras codificações que representam alguns tipos de kanji, que são letras em japonês que tem significado de palavras (Okumura, 2013).
Nos dias de hoje, com a globalização, utiliza-se também a codificação do Braille ocidental no Japão.
O tema Braille abordo também no post “Ler e Escrever no Sistema Braille“.
Reflexão: «Quando na alma desperta verdadeiramente o sentimento de que a língua não é simplesmente um meio de troca com vista ao acordo recíproco, mas que ela é um verdadeiro mundo que o espírito é obrigado a pôr entre si e os objetos pelo trabalho interno da sua força, então ela (a alma) está no bom caminho para se encontrar sempre mais nela (a saber, na língua como mundo) e a investir-se nela.» WilheIm von Humboldt (1836 apud Martin Heidegger, “Língua de tradição e Língua técnica”,1995)
Referência:
Hamamatsu-Books. People: Ishikawa Kuraji. Disponível em: http://www.hamamatsu-books.jp/sp/category/detail/4c8db569d157c.html
Matsuda, Y; Isomura, T.Finger Braille Teaching System. In. Character Recognition. Minoru Mori (Ed.). InTech, 2010.
National Association of Information Service for Visually Impaired Persons. Handbook of translation into Braille. Tokyo, Japan: Daikatsuji, 2002.
Okumura, M.L.M. Nihon Tenji: Braille em versão japonesa. In.Lumiy´s blogs – Visão e Percepção: um olhar para o conhecimento. 2013.
Amei e tomei a liberdade de postar no meu facebook …
muito interessante…
gracias!!!!
Achei muito interessante o texto, as vezes a gente não sabe que ouve um estudo por trás e que assim teve melhorias na vida das pessoas que usam o tenji. Gostaria de saber se alguém saberia aonde consigo comprar Audiobook no idioma japonês? é que eu estudo sabe, queria melhorar minha pronúncia e leitura.